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sábado, 22 de novembro de 2014

A COMERCIALIZAÇÃO DA SAÚDE - Por Nicéas Romeo Zanchett

Deixar de comer para apagar planos de saúde. 
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Quanto vale sua saúde? - Vale quanto você puder pagar.
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                 No "Código de Hamurábi", gravado em pedra na Babilônia há mais de quatro mil anos, está a tabela de preços da saúde da época: Para tratar de um ferimento ou extrair um abscesso de um olho eram cobrados dez moedas de prata se o paciente fosse um ricaço, cinco moedas se fosse alguém remediado e duas moedas se fosse um escravo. Por sua vez, os médicos também eram punidos se fracassassem. Se causasse a morte ou cegueira de um ricaço, por exemplo, teria sua mão decepada. 
                  Até bem pouco tempo, nossos pais e avós se beneficiavam do médico de família ou do bairro. Ele diagnosticava a enfermidade e receitava os remédios que seriam aviados pelo farmacêutico local. 
                  Em nossos dias são raros os médicos da família ou do bairro e o doente já nem consegue mais sair do consultório com a receita dos remédios. O médico pedirá vários exames, radiografias, hemogramas etc. As possibilidades de cura evidentemente são maiores, mas o preço a pagar é sempre uma incógnita. Os honorários médicos continuam sendo influenciados pela importância social do paciente. 
                  Durante muitos anos a medicina foi considerada um sacerdócio, mas no mundo mercantilizado em que vivemos esta máxima já não tem sentido. O médico precisa viver, pagar suas contas, morar dignamente e ter, na sua profissão, um estímulo que lhe permita progredir e melhorar de vida. Numa sociedade capitalista como a nossa, o lucro - no caso do médico, o honorário - é a mola mestra do desenvolvimento. O grande problema é que, como sempre, a ganância que leva muitos médicos a uma preocupação demasiada com o pecuniário em prejuízo da saúde do paciente. Felizmente muitos se dedicam por vocação e vontade de curar.
                  Na sociedade urbano-industrial, a prática da medicina existe sob três formas: 1 - A tradicional atividade autônoma do profissional liberal; 2 - as sociedades hospitalares, onde os profissionais, geralmente, são assalariados; 3 - e as organizações estatais que, no Brasil, fica dependente de vontade política. 
                  O empresário de assistência médica e o profissional médico são duas categorias distintas, com comportamentos bem diferentes, mesmo quando o empresário é diplomado da área medicinal. Para o empresário a saúde é a mercadoria geradora de lucro. Já o cuidado médico é uma simples relação de troca entre médico e paciente, cujo produto do seu trabalho vem em forma de salário.  
                 Os planos de saúde são uma categoria à parte. São organizações financeiras cujo único objetivo é o lucro e aí o paciente paga em dobro. Além de manter o médico, o o consultório, a clínica e os profissionais paralelos, tem de manter o financiador com todos os seus lucros exorbitantes e custos burocráticos, principalmente de cobrança. O pior dos mundos acontece aqui, pois os médicos, que são os verdadeiros heróis do sistema, são miseramente  pagos; a maior parte (parte do leão) vai para o financiador (no caso os planos de saúde), onde o dinheiro é distribuído entre diversos escalões; dessa forma, tornam-se dragões insaciáveis. 
                 A máquina humana é perfeita e, portanto, dificilmente adoecerá. As doenças são resultantes de nossa desadaptação da natureza para a sociedade urbano-industrial que foi muito rápida. As práticas atuais da medicina de consumo acabam poluindo o organismo com excessos de medicamentos e exames desnecessários. Viramos cobaias dos laboratórios.  Existe excesso de drogas medicinais, muitas com a mesma fórmula, com grife e preços diferentes. As faculdades deveriam orientar a formação de médicos no sentido de coibir estes abusos. 
                 É difícil compreender o fato de que existem milhões de pessoas morrendo de fome, tuberculose, gripe, câncer e tantas outras enfermidades da vida moderna enquanto se gastam fortunas em check-ups  periódicos em busca de doenças imaginárias. Não há dúvidas de que o check-up  é útil e muitas vezes necessário, mas é apenas para quem pode pagar. 
                  A verdade é que a medicina moderna tornou-se complexa por demais. Os médicos tem de trabalhar em equipe de profissionais de várias especialidades, dotadas de infra-estrutura hospitalar de enfermagem e apoio financeiro. Os equipamentos para exames são muito caros e somente uma organização empresarial pode adquiri-los. O médico está se transformando em equipamento de apoio à máquina que diagnostica e até trata a enfermidade. Apesar de todo este aparato da modernidade o erro médico é maioria em danos provocados  em pacientes, diz o estudo do pesquisador Walter Mendes da Fundação Oswaldo Cruz que em 2003 analisou 1103 prontuários, em três hospitais universitários do Rio de Janeiro e encontrou uma taxa de incidência de 7,6% do evento adverso, que é qualquer dano não intencional que resulta em disfunção, prolongamento do tempo de internação ou morte do paciente. Segundo ele, as fichas dos pacientes não são mais recentes porque se eles ainda estivessem internados as informações não poderiam ser analisadas. O percentual é similar ao encontrado em estudos semelhantes em outros países. Fonte  JC OLINE - saúde).  Aqui vale informar que escrevi este artigo em 2008.
                  O Brasil tem escolas de medicina onde o ensino é considerado de primeiro mundo, mas infelizmente a saúde é uma área que recebe poucos investimentos. Uma das principais dificuldades é o mercado de trabalho saturado nas grandes cidades e carentes nas cidades do interior do país. Deveria haver incentivo do governo para melhor distribuição dos bons profissionais em todo o território nacional. 
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Nicéas Romeo Zanchett