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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O MUNDO TEM FOME - Nicéas Romeo Zanchett


Este artigo eu escrevi em 2010. Achei que seria interessante postá-lo aqui, pois, enquanto muita gente come em demasia outros passam fome. 
O MUNDO TEM FOME 
Por Nicéas Romeo Zanchett 



                      A crise alimentar mundial está atingindo proporções nunca antes imaginadas. 
                      Há oitocentos milhões de pessoas desnutridas no mundo. Onze mil crianças morrem de fome a cada dia. De cada sete pessoas uma padece de fome. Um terço das crianças dos países em desenvolvimento tem atraso no crescimento físico e intelectual.  Um bilhão e trezentos milhões de pessoas não dispõem de água potável. 40% das mulheres dos países em desenvolvimento são anêmicas. 
                     Em mais de 40 países ao redor do globo terrestre estão acontecendo revoltas de famintos. A imprensa, sob pressão do poder econômico empresarial, tem se mostrado silenciosa e míope a respeito deste assunto. 
                     A prioridade dos países ricos tem sido alimentar os veículos e as máquinas que lhes garantem conforto. Há uma preocupação muito grande com o fim das reservas de petróleo. 
                     A história tem nos mostrado que desde a descoberta do petróleo ele tem sido a principal motivação das guerras e uma das principais causas do aquecimento global que vem causando tsunamis, furacões, tempestades e tantas outras catástrofes climáticas. O petróleo causou enorme desigualdade entre os países. Ele permitiu o armamento desenfreado de inconsequentes ditadores travestidos de democratas. 
                     A Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e os países ricos adotaram um sistema de industrialização da agricultura que se rege pela liberação, pela especulação e pela competição. Querem mais dinheiro a qualquer preço. Sua proposta unificada é de mais produção, mais transgênicos, mais fertilizantes e mais mercado consumidor que possa pagar. Para eles, quem não puder pagar que morra de fome. 
                     Segundo a Organização para Alimentação e a agricultura (FAO), a dívida externa dos países menos avançados está impossibilitando a importação de alimentos e ou o desenvolvimento agrícola de que necessitam para alimentar sua população.  O endividamento com bancos particulares, Banco Mundial  e FMI obriga estas nações a incrementar exportações para pagar juros da dívida externa. Cerca de 40% do valor arrecadado com estas exportações são utilizados exclusivamente para pagamento dos juros. Apresar disso, infelizmente, a dívida continua crescendo. É a mais perversa forma de escravidão da humanidade ao longo de toda a sua história. 
As fezes servindo de alimento. Muito triste. 
                    Antes da Segunda Guerra mundial a África, América do Norte e América Latina eram os grandes exportadores de alimentos. Hoje a situação é bem diferente. Mais de 100 países são dependentes e importadores de alimentos provindos da América do Norte. Esses países relegaram a agricultura a um plano secundário e se voltaram para a produção industrial. A situação climática tem criado problemas insuperáveis para a América do Norte que hoje já não consegue atender a estes países importadores, uma vez que desde 1988 sua produção vem caindo, a tal ponto que já não consegue atender ao consumo interno. O principal fenômeno é a seca e consequente carência de água que vem atingindo todo o planeta. 
                    Olhando para o futuro, com melhor tecnologia de produção, podemos ver que o mundo terá alimentos e mesa farta, mas os pobres morrerão de fome por não terem  dinheiro para comprá-los. 
                    Os países ricos não abrem mão dos subsídios agrícolas. Isto ficou bem claro em todas as negociações de Doha. Agindo assim eles garantem seu alto índice de consumo e desperdício enquanto grande parte da população mundial luta pela simples sobrevivência. 
                      O desequilíbrio de renda chegou a tal ponto que hoje no mundo 1.125 bilionários individuais possuem  mais riquezas do que o conjunto de países onde vivem 59% da população mundial. O que nos consola é que eles também morrerão e não levarão nada disso consigo. No Brasil contabilizamos 5 mil famílias detendo 46% da riqueza nacional. 
                      Precisamos urgentemente retornar aos ensinamentos dos nossos ancestrais para a produção de alimentos orgânicos, preservação do solo e seu enriquecimento com nutrientes naturais. O "caminho" é a agricultura familiar. No Brasil 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa provém da agricultura familiar, mais ou menos assim distribuídos: 67% do feijão, 60% da produção de suínos, 70% de frangos, 56% de laticínios, 89% de mandioca, 75% de cebola e 70% de alface. 
                       Nossos pequenos agricultores serão a salvação para que os brasileiros não passem fome, mas é importante privilegiar os mercados locais e regionais como, também, criar mecanismos de forma a inibir e até coibir a especulação com alimentos (os tais atravessadores), impedindo a formação de oligopólios.
                       Estudos das mudanças climáticas mostram resultados alarmantes sobre o aquecimento global. O que antes parecia ser discurso de cientistas sonhadores estão acordando a humanidade. Na verdade não precisamos nos preocupar com a natureza e sim com a sobrevivência nossa e de outras espécies. A natureza está sofrendo nossas interferências desrespeitosas, mas não está nem aí para os nossos problemas climáticos. Ela sempre sobreviveu a tempestades de asteroides, idade do gelo, extinção dos dinossauros e, portanto, não será um simples aquecimento que irá prejudicá-la. Ela seguira seu curso sem a nossa maléfica presença. O caminho que estamos trilhando é o da extinção humana.
Nicéas Romeo Zanchett 
NÃO TRANSFORME SEU ESTÔMAGO NUMA LIXEIRA. 
Passe a ver a comida como alimento e não como prazer gastronômico.  




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